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O concelho de Ponte de Sor encontra-se numa das maiores e mais produtivas manchas florestais de sobreiro do planeta. A este património natural, grande parte explorado economicamente numa lógica de montado, ou seja, num sistema agro-silvo-pastoril, junta-se o património industrial da indústria corticeira, a principal atividade transformadora da economia local, passando por diversas ofertas complementares como o maior mosaico do mundo em rolhas de cortiça de Ponte de Sor, no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor, produtos gastronómicos, comércio e artesanato.

Aproximadamente metade dos cerca de 840 Km2 ocupados pelo concelho de Ponte de Sor tem o sobreiro como espécie florestal dominante, na grande maioria dos casos explorado numa lógica de montado. Significa então que estamos na presença de um sistema agro-silvo-pastoril centrado economicamente na extração de cortiça, mas que admite diversas outras atividades no seu seio – pecuária, cinegética, colheita de fungos, etc. Integrada numa das principais manchas de sobro do planeta, as mais antigas referências ao sobreiro em Ponte de Sor remontam ao Foral Manuelino, outorgado em 1514, quando este documento penaliza todos aqueles “(…) que cortarem (…) sovereyro per pee (…)” com o pagamento de “(…) quinhemtos reaaes pera ho comcelho (…)”. Nesta época, todavia, a exploração económica do sobreiro – destinada a fornecer a construção naval, a construção civil e a produção de combustíveis fósseis – pressupunha ainda o seu abate e os sobreirais pontessorenses constituíam-se como fornecedores de lenha e de carvão, sobretudo em direção ao grande mercado consumidor que era a cidade de Lisboa. Mais tarde, já em finais do século XVIII, começa a esboçar-se a técnica suberícola alentejana, baseada em desbastes seletivos, conducentes a uma baixa densidade do arvoredo, o que permite o aproveitamento agrícola do solo e a utilização integral dos frutos pelos gados, para além da extração de cortiça, uma vez que a indústria corticeira iria implantar-se brevemente em Portugal.

No concelho, datam da década de 1830 os primeiros registos que apontam para a extração de cortiça com finalidades industriais, levada a cabo nas principais propriedades por negociantes algarvios, que mantinham pequenas fábricas na região de S. Brás de Alportel. Aproveitando o rápido desenvolvimento da indústria corticeira nacional e internacional, dezenas de negociantes e industriais corticeiros portugueses e estrangeiros convergiram, ao longo de todo século XIX, nos montados pontessorenses.

Ao longo dos últimos duzentos anos as riquezas decorrentes do montado de sobro têm sustentado grande parte da economia local, quer no setor agroflorestal, quer através da fixação de diversas unidades fabris relacionadas com a preparação e a transformação industrial de cortiça.

 


Indústria Corticeira

A indústria corticeira é, atualmente, a principal atividade secundária do concelho de Ponte de Sor, empregando cerca de quatro centenas e meia de trabalhadores. A sua origem data do final do século XIX, quando, aproveitando a proximidade da matéria-prima e o desenvolvimento do caminho-de-ferro, inaugurado em 1863, começaram a fixar-se unidades fabris corticeiras em Ponte de Sor, presença que ainda hoje se mantém. Assim, em 1892, já existia um pouco mais de uma dezena de operários corticeiros na então vila de Ponte de Sor, provavelmente ao serviço da multinacional britânica Henry Bucknall & Sons, que à época mantinha uma fábrica de preparação de cortiça junto à saída da então vila de Ponte de Sor. Um pouco mais tarde, seguiu-se, em 1902, a abertura de uma fábrica da família Reynolds, também esta de origem britânica, ao mesmo tempo que se multiplicavam pequenas fábricas preparadoras de capital nacional, cuja origem remontava em muitas vezes a negociantes de cortiça da região de S. Brás de Alportel. No entanto, o caso mais conhecido, até ao estabelecimento da Amorim & Irmãos, foi o da multinacional de origem catalã Mundet que, ao entrar no mercado português no início do século XX, sentiu necessidade de ter várias unidades industriais junto da matéria-prima, tendo escolhido Ponte de Sor como um dos locais para esse efeito. Assim, em 1927, foi inaugurada uma fábrica empregando 30 trabalhadores, total mais tarde ampliado para cerca de centena e meia.

Atualmente são quatro as unidades industriais corticeiras no concelho de Ponte de Sor, duas das quais ligadas ao Grupo Amorim, uma ao Grupo Jorge Pinto de Sá e outra propriedade de Álvaro Coelho & Irmão. Uma passagem pela zona industrial possibilitará ao visitante observar a lógica de uma fábrica de cortiça, que, em muitos casos, necessita de uma enorme extensão de aprovisionamento de matéria-prima empilhada no seu exterior. 

Em Ponte de Sor, o armazenamento de cortiça chega a ultrapassar os dois milhões de arrobas de cortiça (30 mil toneladas), que aqui são transformadas em rolhas de cortiça natural, discos, aparas e granulados de cortiça.


Montado de Sobro

O Montado é uma marca inquestionável do Portugal Mediterrânico. Ao longo da extensa peneplanície alentejana, entre zonas planas e pequenos montes, surgem bosques pontuados de árvores e, no meio destas, descobre-se um património natural riquíssimo, marcado pela biodiversidade animal e vegetal. É, portanto, um local de abrigo para a fauna local, onde são abundantes mamíferos como a geneta e a fuinha e répteis como o sardão, destacando-se ainda uma enorme variedade de aves, algumas das quais ameaçadas a nível europeu, desde espécies passeriformes a aves de rapina e, nos locais junto de cursos de água, aves aquáticas. A flora é caracterizada, para além do sobreiro, por plantas arbustivas e herbáceas como o medronheiro, o zambujeiro, a esteva, o tojo, o rosmaninho e a giesta. 

Já a ação humana, essencial para a manutenção deste ecossistema, passa, em primeiro lugar, pela extração de cortiça. Realizada a cada novénio, entre meados de Maio e finais de Agosto, a cortiça é retirada do entrecasco do sobreiro, em pranchas longitudinais, com recurso a uma machada, através de uma técnica artesanal que pouco se alterou nos últimos duzentos anos. Finalizada a tiragem, que se restringe ao tronco e às principais pernadas, nunca se descortiçando a totalidade da árvore, é pintado, no corpo do sobreiro, o último dígito do ano do descortiçamento, sabendo que a próxima operação deste género se realizará nove anos mais tarde. Contudo, o homem é ainda responsável pelo pastoreio – essencialmente de ovinos e de suínos –, por atividades cinegéticas e, em alguns casos, por atividades agrícolas, mantendo o equilíbrio ambiental do sistema do qual, aliás, depende uma boa parte da economia regional Alentejana.

A combinação destes fatores torna o montado de sobro uma paisagem única a nível global, configurando-se não só como um cenário ideal para quem aprecia turismo de natureza, mas também essencial para a compreensão do funcionamento da fileira da cortiça.