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A União das freguesias de Ponte de Sor, Tramaga e Vale de Açor foi criada no âmbito da recente reorganização administrativa do território das freguesias, pela Lei n.º 11-A/2013, de 28 de janeiro, a partir da agregação das freguesias de Ponte de Sor, Tramaga e Vale de Açor.


A história da freguesia de São Francisco de Assis de Ponte de Sor confunde-se naturalmente com a do próprio concelho de Ponte de Sor, da qual pode ser lido um esboço neste mesmo site, no separador “Concelho: História”. Até ao século XIX, quando anexou as novas freguesias de Galveias e Montargil, o concelho limitou-se quase exclusivamente à freguesia de São Francisco de Assis de Ponte de Sor, acrescida da pequena freguesia de Nossa Senhora da Graça de Torre das Vargens, já referida pelo Padre Carvalho da Costa na sua Corografia Portugueza, em 1708, e extinta em 1834, sendo então integrada na de Ponte de Sor.

O registo mais antigo que temos dando conta simultaneamente da extensão e da população do território da freguesia e concelho de Ponte de Sor é o Numeramento de 1527, mandado elaborar por D. João III. O termo, ou seja, a área sobre a qual o concelho tinha jurisdição, incluía exclusivamente a vila de Ponte de Sor e «huma povoaçam que se chama Val do Açor, huma legoa da villa ao levamte, que tem quatorze moradores», isto é, mais de meia centena de habitantes. A Vila tinha 27 fogos, aos quais se juntavam 58 em casais apartados, ou seja, sob a forma de povoamento disperso; no total, o concelho teria cerca de 100 fogos e 400 pessoas.

Mais de duzentos anos depois, em meados do século XVIII, de acordo com a resposta do pároco de Ponte de Sor ao inquérito que daria origem às Memórias Paroquiais de 1758, o concelho abarcava, para além da Vila, a aldeia de Longomel (até então concelho autónomo, juntamente com Margem) e o lugar de Torre das Vargens, que tinha paróquia própria, não havendo menção à localidade de Vale de Açor. Nesse território, ainda segundo a mesma fonte, encontravam-se 384 fogos (213 na Vila, 128 no campo em redor, incluindo Longomel, 20 em Torre das Vargens lugar e cerca de 23 nas herdades anexas à Torre) e 1480 habitantes (1316 na Vila e no campo em redor, incluindo Longomel, e 164 em Torre das Vargens). Tal representa um acréscimo demográfico de quase 400% em relação aos valores do Numeramento de 1527, o que, em geral, reflete o alargamento territorial do concelho. Em particular, regista-se um significativo crescimento da população da Vila, que passa a ser maioritária em relação à dos campos em redor.

Os dados do Censo de 1864, que são, para a freguesia de Ponte de Sor, de 584 fogos e 2311 habitantes, dão conta da manutenção da tendência de crescimento demográfico, neste caso de cerca de 150% em relação aos valores de 1758. Nesta altura, a freguesia de Ponte de Sor abarcava já a extinta de Torre das Vargens, para além da aldeia de Vale de Açor e do lugar de Água-de-Todo-o-Ano, situado a cerca de 3 quilómetros da Vila, atravessado pela antiga e movimentada estrada para Montargil e registando 40 moradores. Segundo Primo Pedro da Conceição, a mudança de nome de Água-de-Todo-o-Ano para Tramaga teve origem popular, situando-se já no século XX. No artigo sobre Ponte de Sor publicado no Dicionário Corográfico de Américo Costa, em 1947, já é mencionado o lugar de Tramaga, bem como o casal de Água-de-Todo-o-Ano, tendo esta designação sobrevivido, mas aplicada a um território contíguo ao de Tramaga, a ocidente. 

A freguesia de Tramaga foi criada já recentemente, pela Lei n.º 17-C/93, de 11 de junho de 1993, e a de Vale de Açor fora autonomizada da de Ponte de Sor menos de uma década antes, pela Lei n.º 47/84, de 31 de dezembro.

Quanto ao património histórico edificado dos territórios que hoje pertencem à União das freguesias de Ponte de Sor, Tramaga e Vale de Açor, salientamos, para além do referido no separador “Concelho: História”, os chamados “Moinhos da Tramaga” e a Capela de Nossa Senhora dos Prazeres. A mais antiga referência à existência de moinhos na Ribeira de Sor, que banha o concelho e delimita a aldeia de Tramaga a nascente, data do século XIII, tratando-se de uma carta do rei D. Afonso III, de 13 de julho de 1256, na qual são mencionados os moinhos que o seu Chanceler, Estêvão Anes, possuía na Ribeira de Sor: «molendinos quos habetis in Ripa de Soor». Na descrição da Ribeira de Sor e dos seus afluentes feita nas Memórias Paroquiais de 1758, é referido um total de 10 moinhos e uma azenha, situando-se três dos moinhos na Ribeira de Sor. Correspondem possivelmente aos moinhos hidráulicos de rodízio que ainda podemos observar hoje em dia, situados ao sul da cidade de Ponte de Sor, a caminho de Tramaga, recordados por Primo Pedro da Conceição da seguinte forma: o Moinho da Sobreira, «onde era costume realizarem-se as pândegas e pescarias de algum dia, servia de praia de banho a George Robinson, de Portalegre, para passar com os seus operários e amigos as férias semanais»; o Moinho da Pontinha, «de todos o maior, do velho moleiro João Marcelino»; e o Moinho Novo, junto ao qual «existe um formidável pego, sempre com grande abundância de peixe, que é um admirável sítio para a pesca à cana, e onde se faz a passagem do rio para a outra margem por uma peleia suspensa em cima das rochas».

A Capela ou Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres, localizada nas proximidades da aldeia de Vale de Açor, tem origens remotas, sendo já referida em meados do século XVII, por António Gonçalves de Novais, numa obra intitulada Relação do Bispado de Elvas: «No sitio de Alparrajão ha huma Ermida de N. Senhora dos Praseres, imagê mui antigua, & de muita romagem, em que a Virgem Sagrada faz muitos milagres». Segundo Mário Saa, a Capela correspondia à capelania de Alperejão ou S. Pedro de Alperesón, uma das duas do concelho de Seda, havendo vestígios de ocupação romana do local; com a ruína da capela primitiva, aquela capelania teria sido transferida para Ervideira, no final do século XVI, dando origem à freguesia de S. Pedro de Ervideira. É possível que um novo templo tenha sido construído nessa altura, mantendo-se, com alterações, até à atualidade. Em meados do século XVIII, segundo as Memórias Paroquiais de 1758 de Ervideira, então pertencente ao concelho de Seda, e desta vila, a Ermida estava anexa à Matriz de Seda, cujo prior vinha ali celebrar os ofícios litúrgicos. Era destino de romaria para os moradores de Seda, os de Castelo de Vide, que ali iam no dia 8 de setembro, e os de Ponte de Sor, primeiro sem dia certo e depois em 15 de agosto. Estas romarias mantiveram-se até hoje, acrescendo a dos moradores de Vale de Açor, no primeiro domingo de maio. A Ermida é de arquitetura simples; teria uma planta original retangular, com uma galilé rasgada por três arcos, tendo os laterais sido entretanto entaipados. Apresenta também uma torre sineira, adossada à esquerda, para além de outros corpos laterais, possivelmente acrescentados.

Bibliografia:

  • ANDRADE, Primo Pedro da Conceição Freire de – Cinzas do Passado. Revisão crítica por Ana Isabel Coelho Pires da Silva. Ponte de Sor: Câmara Municipal de Ponte de Sor, 2010.

Ana Isabel Coelho Silva (Historiadora), abril 2014